sábado, 5 de fevereiro de 2011

Vencida pelo cansaço...

Apercebi-me que ao longo da minha vida em muitas situações fui vencida pelo cansaço.
São diversas as vezes que somos confrontados com situações em que damos a mão à palmatória e admitimos ser vencidos pela razão, justiça, coerência... porém e quando o cansaço sai vitorioso, quando os argumentos não são válidos, há incongruência nas atitudes e acções e a genuinidade da razão é substituída por um egocentrismo e narcisismo tal?

É quando estamos cansados que dá mais vontade de dizer sim, para que tudo passe e se esqueça rápido.

Há cansaços horrorosos, daqueles que nos sufocam e que nos assombram o resto da vida, são os cansaços da emoção. Podem não pesar como os cansaços físicos, nem ser tão inquietantes como os do conhecimento ou nem ser tão  solitários como os da ausência ou até mesmo desesperantes como os das promessas, mas são aqueles que nos fazem sentir todos os outros. Fazem-nos sentir o peso do físico, a inquietação do conhecimento, a tua ausência e o desespero das promessas por cumprir... ao cansaço dos sonhos chamam-se insónias e não noites em claro. Tinha 15 anos. Frequentava o 10º ano. Estava nas bancadas do pavilhão da escola a observar as aulas de ed.física que por lá se davam. Não me recordo para quem olhava. Mas depois ouvi um desabafo, em jeito de um amor não correspondido, de quem estava sentado atrás de mim: "...passo as noites em claro por aquela rapariga". Para mim, noites em claro é não dormir por se sonhar acordado e não pelo cansaço dos pesadelos.

Já fui vencida pelo cansaço... agora só quero ter noites em claro!


Fernado Pessoa

"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço..."

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