domingo, 20 de fevereiro de 2011

Beijar o copo cheio...

Aqui vos deixo um belo poema de Nuno Júdice. 
Como tão bem é descrito o amor. Desde a transparência e pureza do líquido inicial que nos torna tão leves e que nos leva à cabeça os melhores pensamentos de sempre mas que bebido de um trago tem a capacidade de nos amargar o paladar. É esse o sabor agridoce do amor. Daí que deve ser saboreado com o respeito e admiração da colheita especial que é.
Erguemos os copos e brindemos! 
Tchim-tchim!




"Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos, que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro."


Nuno Júdice, "Plano"

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