Penso muitas vezes, se tu viesses ver-me... todos os dias, espreitar-me por um segundo, só ver-me sem dizer nada e ficares com os olhos cheios de mim, a alma saciada e o coração farto de satisfação. Que quisesses prolongar esse tempo para lá do eterno ou congelá-lo por ser tão mágico e maravilhoso. Que os teus braços e mãos pequenas quisessem ver-me também com um abraço, me esperassem abertas e fechassem fortes para que nada se soltasse. E que tudo fosse acompanhado por um sorriso e terminasse com um sussurro: Estou aqui!
"Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti..."
Florbela Espanca
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